Blog da Professora Lúcia Leiro

09/05/2010

Os galegos na Bahia

Filed under: Uncategorized — ltleiro @ 17:48

De vez em quando passeio em algumas páginas sobre a comunidade galega, da qual faço parte pelo lado paterno, e acho curioso como os descendentes de galegos na Bahia se dizem, com certa afetação, que são descendentes de espanhois, quase nunca pronunciam que são descendentes de galegos. Em parte é até compreensível, pois a Galícia é uma das dezessete comunidades autônomas  da Espanha. Assim, por relação metonímica, ter nascido na Galícia significa o mesmo que ter nascido na Espanha. Em outras palavras: ser baiano é ser brasileiro.

No entanto, vejo que em se tratando de identidades as coisas não são tão fáceis assim, já que a ideia de pertencimento ultrapassa a geografia, o território, a nação imaginada, como diz Benedict Anderson. A questão hoje é garantir a visibilidade das diferentes expressões culturais dentro da comunidade imaginada, isto é, o diverso como parte constitutiva de uma nação.

Acredito que os descendentes de galegos da Bahia não tenham muito conhecimento sobre a história dos galegos na Bahia, isto é, de sua própria história (e de tantas outras, pois somos resultado do entrecruzamento de várias histórias). Ao se falar em cultura espanhola, muitos se referem ao flamenco, à língua castelhana, ao toureiro, enfim elementos que ficaram universalmente conhecidos como representações da nação espanhola. A Galícia tem uma autonomia cultural e linguística que a distingue de outras comunidades.  Do ponto de vista linguístico, podemos ver isso claramente em uma frase como a que segue abaixo, escrita em três registros diferentes: em português, em galego e em espanhol:

o cão do meu avô é parvo. (em português)

o can do meu avó é parvo. (galego)

el perro de mi abuelo es tonto (espanhol)

Obs.: em português brasileiro o parvo seria substítuído tranquilamente por tonto, idiota porque a escrita em castelhano nos dá a dica (tonto). Se não houvesse o registro em castelhano, poderíamos traduzir parvo por pequeno, já que parvo também tem esse significado.

Se formos ver no conjunto, o galego está mais próximo do português do que do castelhano, a língua oficial da Espanha.   De qualquer sorte, as desessete províncias autônomas da Espanha dão ao país o tom da diversidade.

Um fato curioso ocorreu durante a Copa de 2010. Segundo o blog Ecos de Ponte Caldelas, os galegos apoiaram Portugal na partida contra a Espanha, mas no Brasil, até onde pude constatar, os descedentes de galegos torceram pela Espanha.

Na Bahia, diz-se que 89% dos descendentes de espanhois são oriundos da Galícia, portanto, pensar em Bahia em termos de Espanha é pensar em Bahia e Galiza. Existem alguns centros de preservação da cultura galega na Bahia, no entanto, fora o sobrenome, não sei até que ponto os seus descendentes tem uma noção de pertencer a um grupo cultural que aqui chegou na segunda metade do século XIX e que com muito esforço conseguiram fixar-se. Alguns retornaram, outros até queriam voltar, mas não conseguiram.

Fontes: http://ecodepontecaldelas.wordpress.com/2008/12/19/galegos-na-bahia-de-todos-os-santos/#comment-51

http://www.enxuto.org/blogue/a-lingua-oficial-de-espanha-e-o-espanhol-ou-e-o-castelhano

13 Comentários »

  1. Narutalmen minha Querida Lucia Leira, seu comentário , a parte de ser um pouco superficial contem uma carga empírica própria do momento em que vivemos. Naturalmente que os baianos descentes de galegos digam que são descentes de espanhóis porque é uma realidade: Nem todos os espanhóis são galegos mas todos os galegos são espanhóis,(ideias políticas fora de esta questão) ao mesmo tempo que nem todos os brasileiros são baianos mas todos os baianos são brasileiros: Trata-se de extensão e compressão dos termos. A região da Galicia (a denominação comunidade mais me lembra a outra coisa, entre galegos todos não somos tão comuns) , após 1975 tem uma certa autonomia político cultural a igual que outras 16 regiões espanholas, algumas muito parecidas e outras nem tanto, é a característica da riqueza cultural da Espanha.
    Sr. Lucia de que galegos tivessem torcido a favor de Portugal, tenho minhas dívidas dadas aglomerações de multidões que acontecram em todas as cidades, vilas e aldeias da Galiica para comemorar a vitoria da Espanha ( Veja vídeos em youtube) , Talvez os do Eco de Ponte Caldelas sejam algumas das espécies raras e estranhas que povoa esta “comunidade”. Precisamente Ponte Caldelas o fervoro foi total.

    Comentário por eugenio — 09/05/2011 @ 17:40 | Responder

  2. Sra.Lucia Leiro estava lendo o seu blog sobre os seus decendentes;em parte eu também sou decendente de espanhol,só que um mistério para desvendar;segundo a história que meu pai conta,e minha avó trabalhou na década 30 numa panificadora de uns espanhois e engravidou de um deles,ainda gravida voltou para o interior do estado, passado tempo depois meu pai procurou eles manteve contato,depois perdendo de vista.gostaria saber se a sra.pudia nos ajudar a encontrar a familia;o nome dele ELADIO tinha uma padaria que provavelmente era de dois irmãos,chamava padaria correa,ficava situada no bairro da calçada perto da estação da leste.

    Comentário por Isailton de Lima Santos — 02/26/2012 @ 12:59 | Responder

    • Caro Eládio,
      Unfelizmente eu não tenho instrumentos para realizar esta localização, sou apenas, como você, uma descendente de galegos por parte parterna. O que eu faço é isso: veiculo na internet e quem sabe, assim como aconteceu de você ao encontrar esta mensagem, possa localizar outras pessoas neste emaranhado genealógico. De qualquer sorte, vou consultar meu pai, pois ele trabalhou na Calçada por muito tempo.
      Um abraço e espero que consiga melhores resultados.
      Lúcia Leiro

      Comentário por ltleiro — 02/28/2012 @ 08:53 | Responder

  3. Fico feliz que tenha pessoas falando sobre a Espanha na Bahia.

    Comentário por elivaney — 04/02/2012 @ 21:26 | Responder

  4. Olá Prof. Lucia, preciso de uma informação, a respeito de comunidades ou grupos de descendentes de espanhois que moram em localidades, seja no estado da Bahia ou em qual quer outro estado… necessito para fazer uma pesquisa de campo!
    espero que possa me ajudar.
    agradeço
    Jane Lima

    Comentário por Jane lima — 05/10/2012 @ 17:28 | Responder

    • Prezada Jane
      Eu não sou uma estudiosa da diáspora galega na Bahia, mas existem estudos na UFBA, professora Rosário Álban, sobre o tema. Eu tenho mapeado um pouco alguns galegos na Bahia, mas aqueles vinculados ao meu sobrenome LEIRO, mas sem rigor de pesquisa.
      Um abraço
      Lúcia Leiro

      Comentário por ltleiro — 05/10/2012 @ 19:21 | Responder

  5. Sra Lucia Leiro, acredito que somos todos Espanhois, eu por exemplo sou Espanhol filho da Catalunha e nasci na bela cidade de Barcelona, me considero Espanhol obvio que Catalan, pegunto se a Sra não é nenhuma estudiosa porque ta falando sobre os Espanhois oriundos da Galicia.

    Comentário por roberto serret — 05/04/2013 @ 19:38 | Responder

    • Sr. Roberto, obrigada pelo comentário.

      O texto publicado é fruto de reflexões acerca do que ouvi ao longo da vida ou que tenha lido sobre o tema. De qualquer sorte, não são verdades absolutas, mas uma interpretação. Como disse em uma das publicações, não sou pesquisadora, mas na condição de descendente de galegos sinto-me impelida a fazer algumas provocações. Obrigada pela mais uma vez pela postagem e pela oportunidade desta interlocução. Lúcia

      Comentário por ltleiro — 05/10/2013 @ 22:07 | Responder

  6. Bom dia
    Prof. Lucia

    Também sou neto de galego de Moscoso, tenho um pequeno acervo de galegos que vieram para o nordeste do Brasil e pode ser pesquizado em Caballeros de Santiago ou atravez do meu e-mail

    abraços

    Laureano

    Comentário por Laureano ventin Corujeira — 10/09/2013 @ 09:31 | Responder

    • Boa noite Laureano,

      Fiquei feliz ao ler as suas palavras. Com certeza farei uma visita aos Cabelleros para ver a sua pesquisa.

      Um abraço

      Lúcia Leiro

      Comentário por ltleiro — 10/23/2013 @ 18:00 | Responder

  7. Olá, Lucia, estou fazendo uma dissertação abordando as influencias galegas dentro do semiárido baiano. Gostaria de algumas informações sobre: livros, documentos, artigos que tragam palavras que podemos encontrar na língua portuguesa. Meu corpus já está pronto, agora é a análise. Obrigada, Gracielli

    Comentário por gracielli fabres — 12/05/2013 @ 21:10 | Responder

    • Querida Gracielli,

      Eu não tenho pesquisa nesta área, mas tem uma professora da UFBA que é uma pesquisadora em estudos galegos. Ela se chama Maria do Rosário Albán. Acho que você deve conhece-la.

      Um abraço

      Lúcia Leiro

      Comentário por ltleiro — 01/19/2014 @ 07:57 | Responder

  8. Se alguém conhecer algo sobre familia Esquivel ou sanches na bahia agradeço.

    Comentário por Israel — 05/30/2014 @ 16:25 | Responder


RSS feed for comments on this post. TrackBack URI

Deixar mensagem para ltleiro Cancelar resposta

Blog no WordPress.com.